As autoridades do estado de Karnataka, no sul da Índia, demoliram uma estátua de Jesus de 20 metros de altura, que estava na aldeia há 18 anos, alegando que foi construída em um terreno destinado pelo governo para um pasto de animais.
A administração do distrito de Kolar anunciou na semana passada a demolição da estátua ao lado da Igreja de São Francisco Xavier, na vila de Gokunte. O Tribunal Superior de Karnataka ordenou a destruição, mas líderes cristãos locais disseram que o caso ainda estava pendente.
O arcebispo de Bengaluru, Pedro Machado, condenou a demolição da estátua, afirmando que a igreja possuía documentos de propriedade do terreno onde a estátua estava.Segundo Machado, os líderes da igreja tentaram trabalhar com as autoridades para salvar a estrutura, mas as autoridades locais não cooperaram.
“É triste notar que mais uma demolição implacável de uma estrutura cristã, que incluía uma estátua de Jesus de 20 pés e 14 estações de cruz, foi realizada pelas autoridades taluka em uma aldeia cristã, Gokunte, em Kolar, um distrito de Karnataka que toca a fronteira de Andhra”, anunciou Machado em um comunicado.
Uma autoridade local disse à agência de notícias católica Crux que o tribunal superior ordenou a demolição após sete ou oito audiências. No entanto, Machado sustenta que houve uma suspensão emitida atrasando a demolição.
O padre Babu, padre e advogado, refutou a afirmação do governo.
“O governo tem dito repetidamente que a carta de demolição foi emitida. Temos pedido que ela mostre a ordem de demolição. Não está claro se foi um julgamento. Mas [o governante] nunca nos mostrou a ordem”, disse Babu.
“Ela tem alegado que o defensor do governo lhe enviou um e-mail, dizendo que o tribunal superior deu uma ordem e, com base nisso, ela foi em frente e demoliu a estátua.”
O padre também disse que uma nova audiência sobre o caso foi marcada para quarta-feira, um dia após a demolição, informa a agência de notícias do Vaticano.
Os moradores acreditam que um grupo nacionalista hindu entrou com uma petição no tribunal superior para criar tensões na região.
“O vídeo da demolição foi amplamente divulgado, e os cristãos estão realmente alarmados e magoados com tais atos repetidos da máquina governamental pró-hindu”, disse o padre Faustine Lobo, porta-voz do Conselho Regional dos Bispos Católicos de Karnataka, citado pela AFP.
Machado relata que mais de 200 policiais compareceram para a demolição, que foi feita com escavadeiras.
“Foi de partir o coração ver centenas de pessoas derramando suas lágrimas. Mesmo supondo que as estruturas não estivessem totalmente autorizadas, os órgãos públicos poderiam ter tido a magnanimidade de regularizar essas estruturas, que estavam em funcionamento há mais de 25 anos”, disse Machado.
Machado ressaltou que, nos últimos dois anos, houve pelo menos seis demolições semelhantes. Ele alertou para “ataques às Igrejas em todo o Estado”.
“Esses lugares religiosos foram patrocinados e mantidos como locais de devoção em Bangalore e seus arredores por décadas”, disse ele.
O estado de Karnataka é governado pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata.
Dias antes do Natal, Karnataka se tornou o 10º estado da Índia a aprovar uma lei anticonversão, que presume que os cristãos “forçam” ou dão benefícios financeiros aos hindus para se converterem ao cristianismo.
Embora algumas dessas leis estejam em vigor há décadas em alguns estados, nenhum cristão foi condenado por converter “à força” alguém ao cristianismo.
A Open Doors USA, que monitora a perseguição cristã em mais de 60 países, relata que a perseguição contra cristãos e outras minorias religiosas aumentou desde que o BJP assumiu o poder em 2014.
Para os cristãos da Índia, 2021 foi o “ano mais violento” da história do país, de acordo com um relatório do Fórum Cristão Unido. Pelo menos 486 incidentes violentos de perseguição cristã foram relatados no ano.
A UCF atribuiu a alta incidência de perseguição cristã à “impunidade”, devido à qual “tais turbas ameaçam criminalmente, agredem fisicamente as pessoas em oração, antes de entregá-las à polícia sob alegações de conversões forçadas”.
A polícia registrou queixas formais em apenas 34 dos 486 casos, de acordo com a UCF.
“Muitas vezes, slogans comunitários são testemunhados do lado de fora das delegacias, onde a polícia fica como espectadores mudos”, afirma o relatório da UCF.
Os cristãos representam apenas 2,3% da população da Índia e os hindus representam cerca de 80%.
Por Anugrah Kumar, colaborador do Christian Post