25 abril 2023
No domingo (23/4), exatamente às 15h locais (11h no horário de Brasília), milhões de telefones celulares no Reino Unido começaram a soar uma sirene de emergência em alto volume e exibir uma mensagem de alerta. Mesmo aparelhos em modo silencioso tocaram.
A sirene é parte de um teste do governo de um sistema que será usado para alertar a população sobre emergências com risco de morte, como inundações severas, incêndios e condições meteorológicas extremas e também pode vir a ser usado durante ataques terroristas.
A intenção do governo britânico era que todos os celulares do país tocassem a sirene, mas houve problemas técnicos e nem todos soaram o alerta, que era acompanhado de uma mensagem na tela do aparelho. A mensagem explicava que as pessoas não precisavam tomar nenhuma medida, e que a sirene era apenas um teste.
Mesmo entre os celulares que soaram a sirene, muitos tocaram pouco antes ou pouco depois das 15h. O governo anunciou de antemão que testaria o sistema de alerta. As autoridades pediram que as pessoas não desligassem seus telefones.
Todos os telefones Android e Apple 4G e 5G são equipados com capacidade de emitir um alerta de emergência mesmo quando no modo silencioso. Sistemas semelhantes já são usados em outros países, incluindo EUA, Canadá, Japão e Holanda.
O vice-primeiro-ministro Oliver Dowden disse que o alerta “pode ser o som que vai salvar sua vida”.
Ele disse que o teste do sistema era “como quando o alarme de incêndio dispara no trabalho”.
“Pode ser um pouco inconveniente e irritante”, disse. “Acho que, no futuro, as pessoas ficarão gratas por termos testado o sistema”
“O trabalho número um do governo é manter as pessoas em segurança e esta é outra ferramenta no nosso kit para situações de emergência, como inundações ou incêndios florestais, e onde há um risco real de vida.”
Críticas
No entanto, houve acusações de que o alerta de emergência seria uma interferência exacerbada do Estado na vida das pessoas.
“Está de volta ao Estado de babá – nos alertando, nos dizendo, nos mimando quando, em vez disso, eles deveriam apenas deixar as pessoas seguirem com suas vidas e tomarem decisões sensatas por si mesmas”, disse o parlamentar conservador Jacob Rees-Mogg, que afirmou que desligaria seu aparelho durante o teste.
Alguns parlamentares conservadores também criticaram o fato de que a empresa contratada pelo governo para implementar o sistema — a japonesa Fujitsu — é a mesma que foi envolvida em um escândalo em que gerentes de correios foram falsamente acusados de fraude devido a falhas técnicas no sistema de TI. O valor do contrato do sistema de emergências é estimado em R$ 35 milhões.
Outra crítica ao sistema partiu de organizações que trabalham com vítimas de abuso doméstico. Elas dizem que o alerta pode revelar a localização de telefones secretos mantidos pelas vítimas.
As pessoas em risco de abuso foram aconselhadas a desligar, durante o teste de domingo, qualquer dispositivo móvel que desejassem manter oculto para que os telefones não fossem descobertos por um agressor. A sirene toca até mesmo em aparelhos no modo silencioso.
“Nossas preocupações estão centradas no risco muito real para sobreviventes de violência doméstica que podem ter telefones secretos ou secundários escondidos dentro de casa, que eles devem garantir que não sejam descobertos por seus agressores”, disse Emma Pickering, gerente de operações de abuso de tecnologia da organização Refuge.
“Esses dispositivos podem ser uma tábua de salvação para mulheres que precisam acessar o suporte ou fugir de seu agressor.”
Alguns jornais publicaram guias de como desativar a sirene permanentemente do celular. Isso envolve entrar em alguns menus de configuração e achar a opção sobre alertas de emergência.
Outra forma de evitar que a sirene toque é colocando o celular em modo avião.
No domingo, alguns espetáculos e eventos esportivos pediram às pessoas que desligassem seus aparelhos para que o teste não interferisse nas performances. Um campeonato nacional de sinuca chegou a ser interrompido por alguns minutos para que o teste não provocasse interferência na competição.
O teste também gerou uma série de teorias da conspiração falsas, compartilhadas milhares de vezes nas mídias sociais.
Muitos deles envolvem o fato de estar sendo enviado por torres de telefone 4G e 5G, que são considerados invasivos nos círculos da conspiração.
Há alegações falsas de que o teste causaria morte ou ferimentos a milhões de pessoas. Uma mensagem falsa diz às pessoas para evitar o teste saindo das vilas e cidades para “evitar a onda”.
Outras teorias afirmam que isso seria uma tentativa do governo de controlar o telefone das pessoas. Também há alegações falsas de que o alerta seria um sinal para ativar um patógeno perigoso já presente na vacina contra covid que deixaria as pessoas doentes.
Outros países
O Reino Unido levou mais de dez anos planejando o teste com o sistema de alertas de emergência por celular. Mas outros países — como França, Estados Unidos e Japão — usam algo parecido há anos.
No Canadá, as agências governamentais podem emitir alertas para telefones celulares sobre desastres naturais e problemas de saúde pública.
Mas o sistema nem sempre funciona como planejado.
Em 2015, os moradores da província canadense de Manitoba ficaram indignados com um alerta sobre um tornado iminente. Eles reclamaram que a gravação distorcida do alerta era tão sem sentido que pronunciou incorretamente os nomes dos locais que seriam atingidos pelo tornado.
O primeiro sistema de notificação móvel nacional da Coreia do Sul foi adotado em 2005 e é usado para emitir alertas sobre desastres e fornecer orientações em situações de emergência — incluindo a pandemia de covid.
Nos estágios iniciais, os residentes eram notificados diariamente sobre o número de novos casos em sua área, bem como informações de rastreamento de contatos de portadores do vírus para evitar a propagação da doença.
Mas as pessoas se cansaram do sistema de alertas, criticando o excesso de mensagens.
De acordo com o Ministério do Interior, mais de 145 mil alertas de texto relacionados à covid foram enviados em todo o país pelas autoridades centrais e locais por três anos entre 2020 e 2022, informou o Korea Times.
Especialistas argumentam que, se houver muitos alertas, as pessoas podem ficar cansadas, e ficam menos propensas a responder a um desastre.