As críticas do pastor Jecer Goes sobre o envolvimento dos evangélicos no Brasil com a política nos últimos anos gerou reações, com contrapontos feitos pela secretária da Mulher de São Paulo, Sonaira Fernandes, e o pastor Silas Malafaia, sobre o papel do cristão na sociedade.
Goes é fundador e presidente da Igreja Evangélica Ministério Canaã, que congrega 50 mil membros em 120 filiais, e considera “um grande erro” dos líderes e fiéis a aproximação e o debate político.
“Foi um grande erro da igreja brasileira ter se metido nessa praga dessa desgraça chamada política. Isso é uma desgraça, um inferno. Divide as pessoas, desvia a gente, revolta-se. A pessoa perde a sensibilidade do Espírito Santo, perde o caráter, a vergonha”, esbravejou o pastor, acrescentando que “ninguém vai salvar a Igreja, porque todo processo do anticristo é por meio da política”.
“A igreja tem que estar pregando é o Cristo”, concluiu o pastor Jecer Goes, evocando o papel primário dos cristãos como congregação.
Contraponto
A secretária da Mulher em São Paulo, Sonaira Fernandes (vereadora licenciada da capital paulista), acredita que a premissa do pastor Goes está equivocada: “Muitos dos nossos irmãos sofrem da ‘síndrome de avestruz’, acreditam que se ignorarem os problemas à nossa volta, eles vão sumir. Enquanto isso, os servos da maligna ideologia de esquerda estão militando nas escolas, avançando em influência até mesmo nas igrejas, deturpando tudo que encontram pela frente”.
Dessa perspectiva, Sonaira argumenta que as divisões no meio cristão seriam inevitáveis já que a cultura secular em marcha vem promovendo o exato oposto do que a Bíblia anuncia:
“O cristão paga imposto, obedece a lei e respeita as autoridades porque Romanos 13 nos diz que é isso que devemos fazer. O apóstolo Paulo também diz que a autoridade é serva da vontade de Deus e nos convida a ‘despertarmos do sono’, o que é exatamente o contrário de se omitir no campo da política. Que Deus nos guie conforme Sua vontade para influenciarmos a sociedade até que Ele venha”, contrapôs.
“Se o campo legítimo para combater ideias que são inimigas de nossa fé é a política, onde mais o cristão atuaria para defender a liberdade religiosa e os valores que cremos, como a pureza da infância, o valor da vida e a importância da família?”, questionou Sonaira Fernandes, em declaração ao GospelMais.
A mesma linha de argumentação foi adotada pelo pastor Silas Malafaia, conhecido combatedor da ideologia de esquerda. O líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) observou que anunciar o Evangelho, por si só, já coloca o cristão em rota de colisão com boa parte da cultura vigente na sociedade:
“O pastor está tomando uma posição, mas o que eu sempre digo, eu quero ir para a Bíblia. Eu vou na Bíblia, tá? Qual o direito que eu tenho ou não de exercer a cidadania? Romanos 13:7. A quem tributo, tributo. A quem imposto, imposto. Jesus não menosprezou. Dai a César o que é de César. Dai a Deus o que é de Deus. Mateus 22. Então, eu acredito que o reino de Deus é para exercer influência em todos os campos da vida”, declarou Malafaia, em entrevista ao portal JM Notícia.
Reiterando não ser “candidato a nada”, Malafaia também garantiu que seguirá usando os espaços para “exercer influência” e que outros servos de Deus na história foram usados para o mesmo fim, citando como exemplo Daniel, que “foi primeiro-ministro de três imperadores pagãos”:
“Era um homem de Deus, era um profeta. Então, eu vou continuar exercendo influência e meu papel profético, sim. Agora, se ele [Jecer Goes] acha que ele não tem a capacidade de influenciar, ok, é um problema dele”, encerrou.
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