Martin Niemöller (Lippstadt, 14 de janeiro de 1892 — Wiesbaden, 6 de março de 1984) foi um proeminente teólogo e pastor alemão, fundador da Igreja Confessante e presidente do Conselho Mundial de Igrejas.
Filho de um pastor, Niemöller foi oficial da marinha e comandante de um submarino alemão na Primeira Guerra Mundial antes de iniciar os estudos teológicos em Münster. Em 1931, ele se tornou pastor em Dahlem, um subúrbio elegante de Berlim. Dois anos depois, como um protesto contra a interferência do Partido Nazista nos assuntos da igreja, Niemöller fundou a Pfarrernotbund (“Liga de Emergência dos Pastores”). O grupo, entre suas outras atividades, ajudou a combater a crescente discriminação contra cristãos de ascendência judaica presos na tensão entre uma definição religiosa como cristã e a definição racial alemã de judeus com base na identidade dos avós das pessoas.
Como fundador e um dos principais membros da Bekennende Kirche dentro da Igreja Evangélica (Luterana e Reformada) da Alemanha, Niemöller foi influente na construção da oposição aos esforços de Adolf Hitler para colocar as igrejas alemãs sob o controle dos nazistas e dos chamados cristãos alemães. A resistência da Igreja Confessante foi abertamente declarada e solidificada em seu Sínodo de Barmen em 1934. Niemöller continuou a pregar em toda a Alemanha e em 1937 foi preso pela polícia secreta de Hitler, a Gestapo. Eventualmente enviado para os campos de concentração de Sachsenhausen e depois Dachau, ele foi transferido em 1945 para o Tirol, na Áustria, onde as forças aliadas o libertaram no final da Segunda Guerra Mundial. Ele ajudou a reconstruir a Igreja Evangélica na Alemanha, tornando-se chefe de seu escritório de relações exteriores em 1945 e membro do Conselho da Igreja em 1948, e de 1947 a 1964 serviu como presidente da igreja regional de Hesse-Nassau.
- Na íntegra: Martin Friedrich Gustav Emil Niemöller
- Nascer: 14 de janeiro de 1892, Lippstadt, Alemanha
- Morreu: 6 de março de 1984, Wiesbaden, Alemanha Ocidental (92 anos)
- Fundador: Igreja Confessante
- Matérias de estudo: pacifismo
- Papel em: Sínodo de Barmen
Por causa de suas experiências na era nazista, Niemöller se convenceu da culpa coletiva dos alemães e foi responsável em grande parte pela declaração da Igreja Evangélica em 1945 com o Stuttgarter Schuldbekenntnis (“Confissão de Culpa de Stuttgart”). Em 1961 foi eleito um dos seis presidentes do Conselho Mundial de Igrejas, cargo que ocupou até 1968.
Cada vez mais desiludido com as perspectivas de desmilitarização, tanto em seu próprio país quanto no mundo, Niemöller tornou-se um pacifista controverso. Dando amplas palestras, ele falou livremente a favor da reconciliação internacional e contra os armamentos. Ele se levantou contra a aliança militar da República Federal da Alemanha com o Ocidente, lutou contra a corrida armamentista nuclear e buscou contato com os países do bloco oriental. Ele viajou em 1952 para Moscou e em 1967 para o Vietnã do Norte. Seus escritos incluem vários volumes de sermões e uma autobiografia, Vom U-Boot zur Kanzel (1934; Do submarino ao púlpito). Em reconhecimento à sua luta pelo interesse da paz mundial, Niemöller recebeu o Prêmio Lenin da Paz em 1967 e a Grã-Cruz do Mérito, a maior honraria da Alemanha Ocidental, em 1971.
Niemöller é talvez mais lembrado por sua admissão oral de culpa pessoal e condenação do espectador. As palavras exatas estão em disputa; Seu sentimento não é:
Martin Niemöller: “Primeiro Eles Vieram Buscar Os…”
A Citação
“Primeiro eles vieram buscar os socialistas, e eu fiquei calado — porque não era socialista.
Então, vieram buscar os sindicalistas, e eu fiquei calado — porque não era sindicalista.
Em seguida, vieram buscar os judeus, e eu fiquei calado — porque não era judeu.
Foi então que eles vieram me buscar, e já não havia mais ninguém para me defender.
— Martin Niemöller
Esta citação é atribuída ao conhecido pastor alemão Martin Niemöller. Às vezes, ela é erroneamente mencionada como se fosse um “poema”.
Após a Segunda Guerra Mundial, Niemöller falou abertamente sobre sua própria cumplicidade inicial com o nazismo e posterior mudança de opinião. Suas palavras poderosas sobre culpa e responsabilidade ainda ressoam nos dias de hoje.
A citação de Niemöller no Museu Estadunidense Memorial do Holocausto
A citação “Primeiro eles vieram buscar os…” faz parte da exposição permanente do Museu Estadunidense Memorial do Holocausto (USHMM), desde sua inauguração em 1993. Inicialmente, as palavras de Niemöller faziam parte de um painel de textos dentro da exposição principal. Hoje, elas são destaque no final da exposição permanente do USHMM. Suas palavras são lidas pelos visitantes do Museu no final de sua visita, e são uma acusação sobre a passividade e a indiferença humana durante o Holocausto.
Origens da Citação
Esta citação de Martin Niemöller foi elaborada após a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Niemöller ficou conhecido por sua oposição ao regime nazista e também por ter sido ele próprio vítima da perseguição nazista. Em 1946, ele viajou em uma turnê de palestras pelas zonas ocidentais da Alemanha, então ocupadas pelas tropas dos países Aliados. Niemöller confessou publicamente sua inação e indiferença perante o destino de muitas das vítimas dos nazistas. Ele usou frases como “eu me calei…” ou “preferimos ficar calados”. Ele explicou que, nos primeiros anos do regime nazista, ele permaneceu em silêncio enquanto os nazistas perseguiam outros alemães. Muitas das primeiras vítimas do regime nazista eram membros de movimentos políticos de esquerda, a cuja ideologia Niemöller era veemente oposto.
Niemöller considerava seus compatriotas alemães como o público principal para ouvir sua confissão. Em suas palestras, ele lamentava que os alemães deixassem de aceitar a sua responsabilidade pelo nazismo, pelas atrocidades cometidas pelos alemães nos países por eles ocupados e pelo Holocausto. Segundo ele, os alemães, individualmente, passavam a culpa para seus vizinhos, para seus superiores ou para organizações nazistas como a Gestapo. Por meio de sua confissão, ele queria mostrar aos alemães como aceitar sua responsabilidade pessoal pela cumplicidade com o regime nazista.
Por Que Existem Várias Versões das Palavras de Niemöller?
Existem várias versões da citação “Primeiro eles vieram buscar os…”. Algumas versões incluem uma lista diferente de vítimas. Isso aconteceu porque Niemöller frequentemente apresentava suas palestras de improviso e alterava a lista de vítimas de uma palestra para outra. Em diferentes momentos e em diferentes combinações, Niemöller listou: comunistas, socialistas, sindicalistas, judeus, pessoas com deficiências físicas e mentais, e Testemunhas de Jeová.
Algumas versões impressas da citação incluem protestantes e católicos na lista de vítimas Dada a história do regime nazista e as experiências pessoais de Niemöller, era altamente improvável que ele incluísse qualquer um dos grupos em sua confissão de cumplicidade. Em suas palestras no período pós-Guerra, Niemöller se concentrava especificamente nos grupos que os nazistas tinham como alvo antes de sua prisão em 1937 e aos quais ele poderia ter defendido na década de 1930, mas não o fez.
Independentemente das palavras exatas por ele proferidas, a mensagem de Niemöller era consistente: ele declarou que, por meio do silêncio, indiferença e inação, os alemães foram cúmplices da prisão, perseguição e assassinato de milhões de pessoas. Ele sentiu que era particularmente chocante que ele e outros líderes da igreja protestante alemã, que ele acreditava terem posições de autoridade moral, optassem por permanecer em silêncio.
Hoje, a citação faz parte do discurso público e da cultura popular. É várias vezes mencionada como se fosse um poema, uma confissão ou um aforismo. A citação também é frequentemente adaptada e reescrita como ferramenta política, muitas vezes de maneiras que não estão de acordo com as intenções originais de Niemöller.
Quem foi Martin Niemöller?
Martin Niemöller era filho de um pastor luterano, tendo nascido na época do Império Alemão no dia 14 de janeiro de 1892. Aos 21 anos iniciou sua carreira na Marinha Imperial Alemã como oficial. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), Niemöller serviu como oficial em um U-Boat (um submarino). Por seu papel no afundamento de navios inimigos, em 1917 ele ganhou como grande honraria a Cruz de Ferro de Primeira Classe.
Niemöller era nacionalista e anticomunista fervoroso. Ele ficou arrasado com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e o consequente colapso do Império Alemão. Ele também se opôs fortemente ao novo governo alemão do período pós-Guerra denominado de República de Weimar (1918–1933). Não querendo servir ao novo governo, Niemöller se desligou da Marinha no ano de 1919.
Em 1920, Niemöller começou a estudar no seminário na Universidade de Münster e, em 1924, foi ordenado pastor luterano. Durante a década de 1920 e início da de 1930, ele participou de partidos e organizações políticas de direita e de cunho antissemita.
Como Niemöller Reagiu ao Regime Nazista?
De acordo com sua visão antissemita e de direita, Niemöller acolheu com entusiasmo o regime nazista em 1933. Ele votou no Partido Nazista em março daquele ano.
No entanto, o entusiasmo de Niemöller pelo novo governo liderado por Adolf Hitler diminuiu rapidamente quando o regime nazista começou a interferir na política da sua igreja. Em 1933, Hitler apoiou uma facção radical dentro das igrejas protestantes conhecida como Deutsche Christen (em português, “cristãos alemães”). Os “cristãos alemães” retratavam Jesus como se ele houvesse sido ariano e negavam que ele tivesse sido judeu. Eles rejeitaram a autoridade do Antigo Testamento e procuraram alterar partes do Novo Testamento. Seu objetivo era o de remover o que denominavam como “elementos judaicos” do cristianismo. Isso incluía proibir pastores com ascendência judaica de servir nas igrejas protestantes. Niemöller liderou a oposição aos “cristãos alemães” e à política de Hitler sobre a igreja alemã.
A atitude de Niemöller em relação ao regime nazista mudou ainda mais em janeiro de 1934, após um encontro com Adolf Hitler. Niemöller e outros proeminentes líderes da igreja protestante encontraram-se com Hitler para discutir a relação entre a igreja e o Estado. Naquela reunião, ficou claro que a Gestapo (a Polícia Secreta do Estado) havia grampeado o telefone de Niemöller. A “Liga de Emergência dos Pastores” (Pfarrernotbund), que Niemöller havia ajudado a fundar em 1933, também estava sob vigilância do Estado nazista. A hostilidade de Hitler deixou claro para Niemöller que as igrejas protestantes e o estado nazista não poderiam ser conciliados, a menos que os protestantes estivessem dispostos a comprometer sua fé, e Niemöller não estava disposto a abrir mão de seus princípios.
Como resultado, Niemöller tornou-se um crítico ferrenho da política nazista sobre a igreja. Em 1º de julho de 1937, a Gestapo o prendeu e encarcerou como prisioneiro político por oito anos. Vários líderes religiosos internacionais pediram sua libertação, mas Niemöller não foi libertado até o mês de maio de 1945, quando os Aliados derrotaram a Alemanha nazista e o libertaram juntamente com outros prisioneiros de campos de concentração.
Um Legado Duradouro, Ainda que Controverso
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a proeminência de Niemöller como figura da oposição deu-lhe visibilidade internacional. Ele estava frequentemente no centro de controvérsias por suas opiniões francas. Por exemplo, ele se opôs às políticas de desnazificação do pós-Guerra efetuadas pelas potências aliadas pois acreditava que tais políticas causariam mais mal do que bem. Ele também se recusou a apoiar claramente os Estados Unidos na época da Guerra Fria e, como resultado, alguns de seus críticos o chamaram de comunista.
A despeito das controvérsias, Niemöller é lembrado como um dos alemães mais proeminentes a reconhecerem publicamente suas falhas morais durante a era nazista, bem como as falhas morais de sua nação e da sua igreja. E ele continuou a falar publicamente até o fim de seus dias sobre a relação entre a inação e a responsabilidade dos alemães pela perseguição e assassinato de milhões de judeus no Holocausto.
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- Footnote reference1.
Este é o caso, por exemplo, das edições da “Bartlett’s Familiar Quotations” publicadas desde 1980, bem como do “The Yale Book of Quotations” (2006) e do “The Oxford Dictionary of Quotations” (2004).